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sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Outono de rubra

OUTONO DE RUBRA

Nunca me adaptei às novas rotinas. Lembro-me da última vez que fizera isso, foi há dois anos. Eu e minha esposa tentávamos ao máximo aproveitar nossas férias, coisas que casais de meia idade fazem depois de uma vida de trabalho, emoções cansativas e desavenças. Procurávamos evitar ao máximo as preocupações.
Enquanto tomava um café no restaurante do hotel, lembrava-me das palavras de papai: “Outono de vento e folhas amareladas” e me perguntava o porquê delas. Sabe... coisas que surgem como um estalo surdo e causam uma onda de perguntas, questões...
__ Por que folhas de outono? Por quê?
Agora lembrava-me de meu pai . Sua expressão era a mesma diante do mal que o consumia dia após dia. Ele disse, ao tocar minha mão pela última vez, colocando-a contra o peito. Olhou-me nos olhos avermelhados de lágrimas e insônia, embora não conseguisse encará-lo nos olhos. Suas últimas palavras cravaram em minha memória, assim, ficando lá, resistindo ao tempo e a rotina até empoeirar.
Desde então, todas as lembranças que tive dele foram apenas lembranças, senão suas últimas palavras, ainda com aquele timbre imperativo.
Então, como por um milagre de segundos, uma leve brisa roçava em minhas costas, por um tempo. Lembranças deixavam de ser lembranças. Sentia-me como um garoto frágil ao sentir o mais puro carinho paterno. Por instantes, uma palavra reprimida ecoou em minha garganta e minha mente “Pai”
Durante toda manhã, permaneci imóvel. Não, eu não estava me sentindo mal. Resolvi que minha emoção era muito grande para eu ficar sentado. Então, enquanto andava, refleti sobre a fragilidade da vida, que é como uma folha de outono, leve e quebradiça.
Alexandre 3ª A,  10/11/2006


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